10/06/2021

Fazenda Soledade: conheça a cachaçaria por trás do sucesso da Nêga Fulô

A Nêga Fulô não é apenas uma cachaça. A aguardente-de-cana é quase considerada uma pessoa, tamanha personalidade e vida própria. Feita com água das nascentes de Nova Friburgo, na Serra Fluminense, e famosa pelo seu look de terracota que imita o corpo e a pose de uma baiana arretada, ela completa 44 anos em 2021. De concepção artesanal da botija modelada pelo Nêgo, artista residente na região, à cachaça guardada em tonéis de madeira. A Nêga Fulô é expressão criativa conectada com a história de sua origem.

Cachaça Nêga Fulô da Fazenda Soledade

A botija de terracota é obra do premiado escultor Geraldo Simplício, o Nêgo, cearense que reside em Nova Friburgo. Na cidade, ele mantém o Jardim do Nêgo, atração turística que conta com esculturas gigantescas no jardim do sítio onde mora. É lindo!

 

Foi a primeira cachaça da Fazenda Soledade, a que inaugurou a trajetória da família Bastos Ribeiro no ramo de destilaria fina. Ela sintetiza os pontos altos da marca: água de montanha e suavidade. As águas de altitude tendem a ser mais leves porque tiveram menos contato com o solo e, consequentemente, com os minerais. Diferente das águas de profundidade, que são bombeadas de poços.

Fabricada desde 1977, a receita da Nêga Fulô foi sendo sofisticada com o tempo. Hoje ela é vendida também em garrafa de vidro e ganhou versões envelhecidas por três anos em barris de carvalho, jequitibá e ipê. Seus aromas de baunilha e amêndoas, e paladar equilibrado e suave já podem ser apreciados na Alemanha, para onde a empresa exporta a bebida. Ela realmente merece a fama que tem.

 

toneis de aço da cachaça Nêga Fulô

 

Mas a Fazenda Soledade é uma marca plural com vários tipos de cachaça: pura, prata e envelhecidas em barris de pau-brasil, jequitibá, ipê, umburana e carvalho. Apenas este último não é madeira nacional. As cachaças oferecem um universo de possibilidades que só o Brasil – através de seus biomas e expressões regionais – permite.

 

taça e garrafa com a cachaça pura da Fazenda Soledade

Anna Clara Sancho em frente a barril na Fazenda Soledade

 

 

Não à toa, a marca criada em 1977 tem na bagagem prêmios de responsa: a Cachaça Soledade Jequitibá, por exemplo, ganhou medalhas de bronze e prata no San Francisco World Spirits Competition, em 2017 e 2018, respectivamente.

 

Sustentabilidade

“Uma vez que abrimos os olhos para as questões ambientais e sociais que nos cercam, não dá para voltar atrás e tentar viver como se elas não existissem”. Esse é o início do livro “Com que roupa? Guia prático de moda sustentável”, da Giovanna Nader, que extrapola o universo da moda e fala para todos os mercados e sociedade.

Em minha conversa com Vicente, um dos irmãos à frente da Fazenda Soledade, as RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) foram abordadas de cara: “fiz um post essa semana sobre as nossas reservas, está no nosso Instagram, e também coloquei no site, pois é um assunto importante”, afirmou.

 

Mas o que é RPPN?

Segundo a ONG WWF-Brasil, Reserva Particular do Patrimônio Natural é uma categoria de unidade de conservação criada pela vontade do proprietário rural, ou seja, sem desapropriação de terra. No momento que decide criar uma RPPN, o proprietário assume compromisso com a conservação da natureza.

E esse compromisso era exatamente o que o Vicente queria: “As reservas são incluídas no registro de imóvel, são irreversíveis. Posso vender a fazenda, que quem comprar terá que respeitar as reservas”. São cinco e estão localizadas junto a mananciais de água, o que também é uma maneira de perpetuá-las: Nêga Fulô, Woodstock (porque ela lembra um anfiteatro), Córrego Frio, Soledade e Bello e Kerida. As cinco áreas protegidas somam 76 hectares de remanescentes florestais considerados prioritários para a conservação da Mata Atlântica, no entorno do Parque Estadual Três Picos.

 

Barris onde a cachaça Nêga Fulô envelhece

 

Além das reservas, a empresa planta mudas de árvores das cinco madeiras brasileiras que utiliza para produzir as cachaças: ipê, jequitibá, pau-brasil, umburana e bálsamo. “Foi uma maneira de ter atitude de responsabilidade ambiental e fazer por onde daqui a pouco ter essas árvores para compensar as madeiras que foram utilizadas nos barris”, conta Vicente.

 

Degustação

 

“Quando chegar a um lugar e tiver cachaça envelhecida, tente provar a branca, pois é a base de tudo, é dali que surgiu, é a essência do negócio, já que não passou por nenhum barril”

 

Essa é a dica de ouro de degustação do Vicente. “Depois experimente alguma de barril, uma de barril com barril (as chamadas blendadas, tendência no mercado)”, ele completa. A ideia é simples, mas valiosa: ao notar o sabor puro da cachaça, você consegue reconhecer as notas das madeiras quando prova a mesma envelhecida após descanso em barril.

Foi o que priorizamos na degustação às cegas feita na sede da Soledade.

 

pias e cadieras na cabine de degustação de cachaças da Fazenda Soledade

 

A história começou com a cachaça pura, não tinha como não perceber por conta da cor translúcida e aromas delicados e originais da cana. O enredo prosseguiu com a 187: aromas e sabores de baunilha, coco, caramelo, chocolate e canela, adornos vindos do ipê. A sensação do álcool é consideravelmente leve.

 

cachaça da Fazenda Soledade para degustação às cegas

Foi a minha primeira degustação às cegas de cachaça. Achei complexo, mas depois com as orientações do Vicente, os aromas e sabores que eu ainda não conseguia nomear foram ganhando clareza. Avaliação sensorial de destilados melhora mesmo é com a prática. Ou seja, devemos sempre treinar, vulgo, beber

 

Na sequência, veio a 672 com suavidade e doçura, chaves do uso da madeira umburana, que reduz a acidez da cachaça. Os aromas e sabores me lembraram amêndoas, cravo e um pouco de couro. Na 814, a madeira jequitibá emprestou delicadeza e notas cítricas e minerais à cachaça. Já a nota clara de anis estrelado no aroma e no sabor dedurou sem rodeios que a 465 era a envelhecida em barril de bálsamo. Delícia! A 292 é, sobretudo, pimenta no retrogosto, aquela sensação que fica na boca após o gole. Acerta quem chuta que a cachaça foi envelhecida em barril de pau-brasil.

E last, but not least, a Nêga Fulô. De surpresa foi colocada na minha cabine. Vai ser bom assim lá em casa.

 

A Nêga Fulô na degustação às cegas

 

Alguns momentos da ótima tarde passada na Fazenda Soledade:

 


Tags: , , , , , ,


Posts relacionados:

Anna Clara Sancho sentada na escada do Santo Rio

Os drinks e o décor do Santo Rio provam que o bar de Botafogo é pura fantasia

Eu e o Santo Rio, novo bar de drinks de Botafogo, percorremos um longo caminho de flerte online [com direito a muita curtida em foto antiga e interações por DM – entendedores entenderão] até chegarmos nessa oficialização da relação perante os olhos da internet, tendo tudo se intensificado na minha primeira ida no sábado, com […]

ostra com gin tônica e praia de Copacabana ao fundo

A combinação de ostras e gin tônica artesanal da marca Sharlin preenche a boca com maresia

Aaaah o mar, a água salgada que cura e revitaliza. Dizem que três coisas têm propriedades medicinais: água salgada do mar, do suor e da lágrima. Por aqui, eu acrescento o álcool das cervejas, vinhos e drinks. Com o calor, o apetite deseja coisas leves e geladas, não é mesmo? E o conceito se estende […]

God Save the Gin! Unha e drink com Tanqueray, gin preferida da rainha, em homenagem ao casamento real

Entramos no clima do casamento Real! Na Casa Camolese, o bartender Cleiton criou um drink especial em homenagem à Rainha para o Malte & Esmalte! CompartilharTwittarPin


Deprecated: O arquivo Tema sem comments.php está obsoleto desde a versão 3.0.0 sem nenhuma alternativa disponível. Inclua um modelo comments.php em seu tema. in /home4/maltee79/public_html/malteesmalte.com.br/wp-includes/functions.php on line 6031

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.