24/01/2017

Reduzir, Reciclar e Reutilizar ganham força nos mundos fashion e cervejeiro

Li recentemente uma bela frase do ex-presidente do Uruguai José Mujica que me deixou encafifada: “O que estamos gastando é tempo de vida. Porque, quando compramos algo, não pagamos com dinheiro, compramos com o tempo de vida que tivemos que gastar para ter esse dinheiro. Mas tem um detalhe: tudo se compra, menos a vida. A vida se gasta”.

Foi um belo pontapé para organizar uns pensamentos.

A maneira de consumir está mudando, isto é fato. As pessoas estão comprando menos e não estão comprando mais qualquer coisa. Antes de adquirir algo, elas estão pensando nos porquês. E isto não acontece apenas na hora de comprar roupas, sapatos, bolsas. Quem consome com consciência, consome com preocupação desde um cafezinho. Os conscientes buscam uma relação mais justa de consumo e produção.

Na moda, os questionamentos são feitos diretamente para o fast-fashion. A geração millennial, por ter nascido em um mundo muito acelerado (a partir de 1980), tem buscado desacelerar. Eles são os que mais se preocupam com meio ambiente e questões sociais. A grande prova foi o crescimento da iniciativa “slow” na moda, bem na contramão do fast-fashion. No livro “Moda com Propósito”, o autor André Carvalhal explica bem que “essa abordagem lenta intervém como um processo revolucionário no mundo contemporâneo, que incentiva levar mais tempo para garantir mais qualidade, criatividade, ética, e para dar valor ao produto e contemplar a conexão com o meio ambiente. Esse ‘lento’ não é necessariamente pensado como falta de velocidade, mas como uma visão de mundo diferente”.

Em São Cristóvão, aqui no Rio de Janeiro, foi criada a Malha, “uma plataforma para o ecossistema da moda que conecta criadores, empreendedores, produtores, fornecedores e consumidores pela construção de uma moda sustentável, colaborativa, local e independente”.

 

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O espaço conta com marcas residentes, mas também está aberto para clientes temporários. Tem estúdio compartilhado, fábrica compartilhada, laboratório compartilhado.

 

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Neste movimento, só não há espaço para a exploração de mão de obra. Tudo é feito por poucas pessoas e por pessoas locais. Afinal, como lembra a plataforma na capa de seu website, “justo é o novo preto”.

Pois a tendência agora é a nova era de consumo autoral. O laboratório internacional de pesquisas Future Concept Lab já apontou que as novas gerações são como empresas criativas, onde as pessoas são atores e autores de suas próprias escolhas. Assim, os consumidores tendem a ver a moda de forma diferente, não mais como a única maneira de construir e comunicar quem são. Hoje as pessoas se orientam cada vez mais por seus valores e sua consciência.

A moda é a segunda indústria que mais emprega. Está longe de ser a mais correta, mas é a que tem mais poder para criar e disseminar tendências de comportamento. Basta querer que sejam comportamentos do bem. Como lembra Gandhi, “Não há beleza na roupa mais fina se ela gera morte e tristeza”. Reflitamos sobre.

 

Orgânica e sustentável

E essa onda de sustentabilidade e consumo consciente também já chegou ao mercado cervejeiro. No Sul de Minas, um casal apaixonado por cerveja artesanal resolveu investir em um projeto de fábrica sustentável. Ali, na zona rural de Paraisópolis, tudo se aproveita: do bagaço dos insumos usados na fermentação da bebida ao potencial produtivo da fazenda onde a produção acontece.

“Até o meu casamento [em 2015], eu não gostava, mas aí você vai aprendendo a gostar porque vê que tem um sonho, um potencial de crescimento. A gente faz um produto único, que ninguém mais faz e, quando você chega e ouve elogios, é muito gratificante. A gente é sócio por lei, mas faz por puro prazer. O sonho de um é o sonho de outro”, diz Júnia Falcão, que é carinhosamente interrompida pelo marido. “Se ela não tivesse entrado, esse projeto não sairia”, garante o engenheiro Fabrício Almeida.

A paixão pela cerveja artesanal é tanta que até no casamento os dois produziram e serviram a própria criação. Um preparo de seis meses para obter 400 litros da cerveja exclusiva, servida apenas na festa com os amigos.

“O brinde do casamento foi uma garrafinha com os nossos nomes. Foi um sucesso e aí a gente viu que aquele produto estava bom e bem aceito. As outras bebidas destiladas sobraram todas, mas a cerveja toda foi consumida. Foi aí que a gente andou com o plano”, conta Fabrício.

 

 

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Casamento de Fabrício e Júnia foi comemorado com cerveja artesanal produzida pelo casal (Foto: Arquivo Pessoal)

 

De hobby a investimento

Quando descobriu os vários sabores que uma cerveja pode proporcionar ao paladar, Fabrício começou a estudar o assunto. Era 2006 e ele confessa que produzir a bebida ainda era um projeto muito distante. Em 2010, ele comprou os equipamentos e arriscou fazer sua receita na cozinha de casa mesmo. “E aí foi virando um hobby. É um hobby bom que, se der errado, você bebe toda a produção”, diverte-se.

Com o apoio de Júnia, o hobby ganhou força e foi parar na fazenda dos pais dele, onde, em 2015, surgiu a ZalaZ. “O investimento para montar a fábrica é muito alto. A gente tinha facilidade de ter uma área dentro da fazenda, onde já se produzem vários produtos que são consagrados pela qualidade. Então, tem o café, que já foi premiado como o melhor do Brasil, suínos, derivados como linguiça e torresmo, que são famosos, mandioca orgânica, feijão. A gente quis estar neste microclima que favorecesse isso também”, conta.

Reaproveitar o malte na alimentação animal e o lúpulo, cheio de proteínas, nos compostos orgânicos que adubam a fazenda enriqueceu a história da bebida.

Todo final de semana, Júnia e Fabrício saem do interior de São Paulo, onde tocam suas carreiras profissionais, e voltam para a terra natal, no Sul de Minas, para passar os sábados e domingos em meio a estufas, plantações e esteiras de envase. Mensalmente, 5 mil litros de cinco tipos de cervejas saem da fábrica que eles montaram em 2015.

Até o pai de Fabrício, o agrônomo Paulo Sérgio de Almeida, entra no desafio. “Eu degusto, checo como estão as estufas enquanto eles não estão aqui”, conta. É ainda influência do trabalho do senhor Paulo as características sustentáveis da microcervejaria.

“Nós temos um trabalho diferenciado já desde 2000 com café orgânico”, conta, orgulhoso, o agrônomo, que é referência na produção de cafés especiais e em 2001 ganhou um prêmio internacional de qualidade.

 

A ZalaZ

A ZalaZ é uma microcervejaria artesanal encravada na Serra da Mantiqueira. Fica localizada dentro da Fazenda Santa Terezinha, uma fazenda orgânica produtora de cafés especiais, suinocultura e derivados, além de outras culturas orgânicas, como maracujá, pitaia, mandioca e feijão. Tudo isso de uma maneira integrada e sustentável.

 

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De pai para filho: produção orgânica de café e maracujá se reflete na microcervejaria (Foto: Daniela Ayres/ G1)

 

A microcervejaria tem um lindo mural de grafite, criado pela artista Rita Fittipaldi, que conta a história de duas Deusas. A primeira, Deusa da Colheita, está abençoando seu campo de cevada. A segunda, Deusa da Cerveja, recebe a cevada abençoada pelo bico do pássaro, que a transporta durante todo o dia. Essa Deusa é representada pela sereia no mar, onde cada onda é um estilo de cerveja. No meio de tudo isso há o elemento central, o lúpulo. O céu representa o processo produtivo, que se inicia durante o dia e vai até o anoitecer.

 

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A Fazenda

A fazenda pertence à família há mais de cem anos. O agrônomo Paulo Sérgio de Almeida administra em conjunto com o irmão Helder de Almeida. Desde meados da década de 80 não são utilizados agrotóxicos nas plantações e em 2000 a fazenda foi certificada orgânica pelo IBD (Instituto Biodinâmico).

 

O Café

O café da fazenda ganhou grande destaque em 2001, quando foi o primeiro café orgânico do mundo a vencer o concurso Cup of Excellence. A fazenda reúne as características ideais de produção, como altitude em torno de 1.200 metros e solo vulcânico rico em fósforo e potássio. Estas características proporcionam um café complexo em sabores e aromas. Um café de qualidade ímpar, extremamente exótico, com uma doçura que lembra baunilha e caramelo, frutado com notas de figo e amêndoas.

 

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Fabrício e o pai na lavoura de café: produto campeão também entra na receita da cerveja artesanal (Foto: Lucas Soares/G1)

 

As cervejas

Todas as cervejas da ZalaZ são produzidas com maltes especiais, água, lúpulo e levedura. Algumas com um toque especial, como café orgânico, maracujá dos pomares da fazenda, entre outras delícias.

 

Confira as descrições de cada rótulo:

 

Double Zuzi – Porter

A Double Zuzi foi elaborada com elevada dose de café orgânico, proveniente da Fazenda Santa Terezinha, onde é produzido um dos melhores cafés do Brasil. O café espresso é balanceado com maltes especiais e rapadura, o que lhe confere um sabor marcante. Possui corpo médio e teor alcoólico de 7%.

 

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PaZion – American Wheat

Uma cerveja de trigo do estilo americano, suave e refrescante, perfeita para acompanhar pratos leves e dias ensolarados. A PaZion leva em sua composição maracujá orgânico cultivado nos pomares da fazenda.

 

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Zapp – Wheat Wine

Uma cerveja com alta carga de malte de trigo, resultando em um alto corpo e teor alcoólico de 8,5% ABV. Bom equilíbrio com o dulçor do malte.

 

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Martiataka Zummer – California Common

Foi elaborada para celebrar o bom e velho Rock and Roll, traduzido pelas canções da banda Martiataka. Possui 5% de graduação alcoólica, sabor refrescante e personalidade singular.

 

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Zupa – Belgian Blond Ale

Uma cerveja de corpo médio e baixo amargor. Tem uma leve doçura no paladar, com teor alcoólico de 6,0%.

 

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Cascara – Sour Beer

Rótulo sazonal feito em colaboração com a One Brew Beer, trata-se de uma Sour Beer com limão cravo e chá de casca de café.

 

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Fontes: ZalaZ, G1 e All Beers


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